terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Nossas experiências com Autismo e Sexualidade - Parte I

Tentei amenizar os fatos aqui relatados, mas há coisas que, mesmo amenizando, ficam um tanto "pesadas" para se ler. Se não sentir-se preparado, não leia este post nem o próximo.


"O caminho que percorremos, no início, foi tortuoso, cheio de pedras e incertezas, pois não sabíamos aonde estávamos indo. Com fé, tenacidade e amor, chegamos ao paraíso. Bastou perseverança e acreditar em um Deus todo poderoso para sermos felizes. Nosso filho é um exemplo de que todos temos potencial e que todos somos merecedores de uma vida digna, não importa cor, credo, sexo ou condição."
Anita Brito

Há muitos anos, conversando com uma amiga, ela me disse que uma parente sua tinha um filho autista e que todos sofriam muito por causa disso. Era uma família de classe média alta e moravam no Litoral Cearense, pois tinham mais paz fora do Estado de São Paulo. No Ceará, eles viviam em uma casa grande, com um quintal enorme e próximo a uma linda praia. Ali, tinham poucos amigos e nunca chamavam ninguém para ir a casa deles. Parentes nunca visitavam e a sociedade ao redor, certamente, julgava o casal como anti-social, pois qualquer tentativa de se aproximar do casal, era em vão.

Ao me contar sobre esta família, minha amiga detalhou alguns fatos da vida deste casal.
* A criança, um menino, de repente "virou" autista (hoje sabe-se que não é bem assim e que ninguém vira autista);
* Ficou extremamente agressivo e parou de falar o pouco que falava;
* Não ia no colo de nenhum membro da família;
*Balançava-se para frente e para trás o tempo todo;
*Não conseguia viver em sociedade;

Como ela também era professora, disse-me que gostaria de trabalhar com crianças especiais um dia e que gostaria de trabalhar com alunos com Síndrome de Down, mas que tremia só de pensar em ter um aluno autista. Conversamos sobre o assunto por umas duas horas, durante um almoço em sua casa.

O que ela me contou ao final, me comoveu demais e eu ainda nem era mãe! Ela me contou como estava a vida da amiga e que elas não estavam mais se falando tanto porque a amiga se abriu com ela e contou o que estava acontecendo.

O filho estava com 15 anos e estava se masturbando muito. O problema, é que, após a ejaculação, o menino começava a gritar, pois ficava com nojo de ficar sujo.

O garoto começou a ficar mais agitado, e sua mãe teve que começar a masturbá-lo... Começamos a chorar, pensando no sofrimento dos pais com aquela situação. A família era muito católica e isso os estava consumindo. Não conseguimos terminar o assunto, porque a comoção foi geral.

Depois falamos sobre mais alguns autistas que tinham desejos específicos, tais como: carros, obituários, um determinado desenho (o filme Rain Man havia sido lançado nos cinemas brasileiros naquela época, por isso o assunto veio à tona) e mudamos de assunto com a frase: "Bem, vamos falar de coisas mais leves!"

10 anos depois, tornei-me mãe.

Ao desconfiar que meu filho poderia ser autista, tive receio de como seria quando chegasse sua adolescência (sim, sempre penso à frente, mas não sofro por antecedência). Ao ter certeza de que ele ERA autista, fiquei pensando em como o ensinaria a "comportar-se" em sociedade em relação a isso.

Aos cinco anos comecei a conversar com ele sobre o assunto. Ele ainda não verbalizava quase nada:

- Filho, às vezes você fica com o pipo¹ durinho?
- Sim.
- E você mexe nele?
Silêncio...
- Filho, você mexe nele quando está duro?
- Sim.
- Posso te pedir uma coisa? Quando você quiser mexer, só pode ser dentro de casa. Pode ser? (...) Nicolas, você está me ouvindo, amor? (Silêncio) Nicolas?

E parei de falar sobre o assunto naquele momento, retornando somente no dia seguinte.

Meu coração estava à mil e meus pensamentos rodando em minha cabeça. Será que ele estava me entendendo? Será que ele iria ter problemas? Será que nós teríamos problemas com ele em relação a ele?

Confesso que durante aquele período considerei várias coisas, mas não sabia bem o que considerar. Os adolescentes neurotípicos já dão trabalho quando os hormônios estão a mil, imaginem um autista?

Orei muito e pedi a Deus forças para passar por aquele momento e chegar nos dias de hoje. E deu certo...

Depois conto mais a vocês
¹ Pipo era a palavra que usávamos para nos referirmos ao pênis. Hoje em dia já falamos pênis para ele.
Parte II: http://meufilhoeraautista.blogspot.com.br/2012/12/nossas-experiencias-com-autismo-e_13.html

8 comentários:

  1. esse post me ajudou muito como xegar no meu filho p conversa sobre esse assunto e pode ter certeza usarei as mesmas frases ki vc usou nas perguntas me pareceram mais amenas e mais leves p se tratar com um menino ... nao tenho conta no google , mas sou eu a Fraan de Jatai...

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  2. Bom Anita, é importante mesmo encarar certos assuntos considerados "constrangedores e pesados" para debater e achar formas mais coerentes destes serem tratados.
    Importante mensagem, já vi muitos perguntarem e ficar completamente sem resposta.

    Abraços

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  3. Meu Deus, querida meu coração ficou apertado, pois sou mãe de um garotinho autista, e imagino o sofrimento desses pais, eu nao teria coragem nem estrutura psicológica para fazer o que essa família fez, fico com meu coração pesaroso e triste, sei que eles estavam tentando acalma-lo e sei o quanto é difícil acalmar um autista grave. Sao realidades que precisam ser ditas, mesmo que choque precisamos pensar a respeito da sexualidade no autismo.

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  4. Anita, depende de cada criança né? Até hoje sexualidade é um assunto que traz muita vergonha ao meu filho... tento falar com a maior calma possível, do melhor jeito, mas ele sempre fica muito desconfortável na conversa... agora adolescente, tivemos um episódio de um dos "pseudo-colegas" (mal-intencionado mesmo, pois via a pureza de coração que nosso LU tem...) e deu endereço de um monte de sites adultos... Quando me dei conta, ele já estava navegando havia tempo... muita conversa, muita orientação pra tirar da cabeça toda a sujeirada que viu, e agora OLHO VIVO no Controle de Pais pra Internet... eu meio que "bobeei", pois ele sempre foi inocente, e como o Nicolas detesta palavrão e repreende na hora quem fala, seja conhecido ou não...na cara dura (as vezes eu até me envergonho, pois nem conheço a pessoa e ele chega na "lata" e fala que não pode falar palavrão... Enfim...temos que ficar de olho nos nossos, e em quem os "circula"... Nunca imaginei que um amiguinho pudesse sacaneá-lo desta forma....
    Beijos

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  5. Anita, gostei da iniciativa de abordar um assunto q as pessoas tem tantos "Pudores", mais de uma importância tremenda! Sabemos que nossos filhos não tem Malícia, mas são seres Humanos, Sentem, e isso tem q ser falado sim! até mesmo p/ ajudar, de como lidar com a situação.
    Publicando da Fan.
    Abraço

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  6. Anita obrigado por compartilhar esse episodio, eu sei longo vai ser nosso caminho...Vamos instruir nosso pequeno e ficar observando muito. Beijo.

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  7. Amiga querida, ótimo post! Fico com o coração na mão em pensar que daqui um tempo estarei passando por isso... bjos e obrigada por compartilhar conosco um assunto de extrema importância.

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  8. Boa tarde,
    Nos USA, há um programa chamado Early Intervention/
    Intervenção Precoce. Assim que os pais ficam com dúvidas, podem pedir ao médico uma avalição precoce, que é feito por uma equipa especializada, que vai a casa e observa a criança no seu meio.
    Normalmente no fim falam com os pais, mas depois fazem por escrito um retório completo.
    Começa então um programa com vários tipos de especialistas, várias horas por dia...
    No caso que conheço muito bem, a família continua o trabalho das técnicas, por ex: a criança só tem o que quer quando o pede, conforme o grau, apontando ou falando.
    Os resultados vão aparecendo, isso posso confirmar, mas é uma obra muito dura e dolorosa.
    Na escola também teem acompanhamento e conseguem boas notas.
    Tenham muita Fé.
    MHA - Portugal


    Maria Helena Abrantes -

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