domingo, 22 de maio de 2011

Desespero

Enquanto estávamos naquela sala de psiquiatria eu só conseguia ver a sombra das pessoas. Estava tudo embaçado e meu coração parecia que ia parar.

  Nem me lembro como eram os médicos, só me lembro que havia mais de um na sala. Fiquei atordoada com o que a mulher tinha me dito, sobre seu marido se matar, e estava tentando me concentrar o máximo possível.

Lembro-me muito bem de o médico olhar para o Nicolas e observá-lo por alguns segundos. Então ele começou a fazer perguntas que o Nicolas não queria responder (ou ouvir, porque era como se ninguém estivesse falando com ele). De repente, ele pegou um objeto giratório do bolso e girou em cima da mesa. O Nicolas olhou instantaneamente e havia uma leve expressão de alegria em seu rosto.

Era um sorriso que vinha mais do olhar.

Depois ele pediu para que o Nicolas andasse de um lado para o outro e disse:

- Vocês têm alguma idéia do que possa estar acontecendo com o Nicolas?

- Achamos que ele tem autismo. – Respondi.

- Vamos fazer uma série de exames para afastarmos outras possibilidades, mas acredito também que ele seja autista. A propósito, porque vocês acham isso?

E comecei a relatar novamente tudo o que havia acontecido com o Nicolas desde bem pequeno e o número de vezes que procuramos médicos para nos ajudar nesta questão. Saímos dali com uma série de papelada nas mãos e fomos procurar uma centena de lugares para fazermos um milhão de testes com o Nicolas. Alguns nomes eram totalmente desconhecidos para mim, mesmo eu tendo lido uma série de coisas sobre o autismo. Tinha o X-frágil e vários outros testes que se pede para afastar a possibilidade de uma outra síndrome.

(...)
Comecei a orar, mas orar muito, só que uma oração confusa porque minha cabeça não funcionava direito, pois eu já não dormia bem há mais de dois meses. Minha vida se resumia a falar com meu marido como o Nicolas estava hoje e só. Minha casa estava de cabeça para baixo e já não cozinhávamos mais os pratos que tanto gostávamos, mas nós nem percebíamos.

Nós não víamos mais nossos amigos, mas nem tinha tempo de pensar em nada disso durante esse tempo. Que eu nem sentia falta de nada disso, pois se sentisse não estaria lembrando de tudo só agora. Voltava a pedir a Deus pela vida do meu anjinho e me colocava disposta a tudo. Mas tudo o quê?

Não sei quanto tempo tudo isso durou, mas de repente comecei a chorar e a perder a cabeça, porque eu notei que eu não estava conseguindo controlar o choro. Peguei o telefone:

- Amor, corre pra casa. O Nicolas não quer falar comigo! – e abri o berreiro no telefone.

- O que foi, bebê! O que está acontecendo?

- Corre amor, vem pra cá agora. Nós precisamos de você.

Em quinze minutos o Alexsander estava em casa. Encontrou uma mãe desesperada e um filho inerte e totalmente diferente e indiferente.

*Leia mais no livro "Meu filho ERA autista" - informações: meufilhoeraautista@yahoo.com.br

sábado, 14 de maio de 2011

Capítulo 18 – Os que se foram e os que vieram para ficar

A partir daquele dia, depois de ter escutado o que aquela mulher me disse sobre seu marido, comecei a ter crises constantes de ansiedade. Passava mal quase todos os dias e sentia que estava tendo um ataque cardíaco. Minhas mãos ficavam dormentes e minha respiração ficava pesada. Sentia tudo apagar e tentava me controlar para não desmaiar na frente dos meus clientes. Como tenho enxaqueca desde os sete anos de idade, isso só ajudou a piorar as crises. Fui ao médico, pois tinha certeza que estava morrendo, e ele mediu minha pressão, escutou os batimentos cardíacos e... nada! Ele conversou comigo e descobriu a causa do meu problema: eu estava tendo uma crise nervosa e teria que me acalmar. Ele me receitou calmantes, mas eu nunca os tomei.

Comecei a pesquisar sobre sintomas e tratamentos, mas me negava a tomar qualquer remédio, pois tinha medo dos efeitos que esses remédios têm. Como eu poderia cuidar do meu filho se eu ficasse em cima de uma cama dormindo ou feito uma morta-viva?

Tive que escolher entre cuidar de meu filho ou cuidar de mim e travei mais uma luta silenciosa. Não contei a ninguém o que estava acontecendo e novamente me apeguei a Deus. Pedia todos os dias para me curar para eu cuidar do meu filho, pois diferente do autismo, isso tem cura. Comecei a trabalhar meu psicológico, mas não era nada fácil. As crises eram cada vez mais constantes e o isolamento que havia começado quando o Nicolas ficou doente, só fez aumentar. Alguns poucos amigos foram se afastando porque eu e o Alexsander nunca estávamos disponíveis para sair ou para viajar.

Não culpo aqueles que se afastaram e um dia voltaram, pois ninguém é obrigado a nada e cada família ou indivíduo tem algumas batalhas que cada um tem que lutar. Às vezes, os amigos tornam-se soldados e te ajudam em suas batalhas, mas às vezes é você quem tem que tomar a decisão e não há ninguém no mundo que possa lutar por você ou para você.

(...)
*Leia mais no livro "Meu filho ERA autista" - informações: meufilhoeraautista@yahoo.com.br

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Capítulo 17 - Face a face com a realidade

Entrar em uma sala de hospital público quase nunca é igual a uma sala de uma clínica particular. O cenário não era dos melhores, mas havíamos conseguido uma consulta para 15 dias após o primeiro telefonema, então estávamos em grande vantagem. Mas olhar para algumas crianças ali era simplesmente terrível. O irônico é que o único passeio descente que tínhamos quando éramos crianças era ir ao Hospital do Servidor Público. Era o único dia do ano que minha mãe era obrigada a gastar dinheiro que ela não tinha conosco na rua, porque ela levava 02 ou 03 filhos de cada vez para passar no médico, colher exames, etc. Isso levava o dia inteiro e, graças a Deus, minha mãe comprava alguma coisa para comermos nas barraquinhas em frente ao hospital. Às vezes era um lanche para dois, mas já diz o ditado “em terra de cego quem tem um olho é rei”! Mais vale meio lanche uma vez por ano do que nada. Então era um dia muito especial e esperado por mim e por meus irmãos.

Mas o cenário ali naquele hospital era diferente porque eram crianças com problemas psiquiátricos de todas as ordens. O Alexsander ficou assustado e eu confesso que fiquei com pena dele. Eu olhava para o olhar dele assustado em relação às outras crianças e pensava: “Será que ele vai agüentar o tranco? Será que ele será forte o suficiente para enfrentar o que virá? Meu Deus, nos dê sabedoria e muita fé para passar por esse momento.”

(...)
*Leia mais no livro "Meu filho ERA autista" - informações: meufilhoeraautista@yahoo.com.br