sábado, 23 de janeiro de 2016

Mais um pouco sobre alimentação


Chega a ser incontável o número de vezes que me perguntam sobre a alimentação do Nicolas. E claro que entendo, pois só eu sei o quanto sofremos para ajudá-lo neste quesito. Importante saber: O NICOLAS NUNCA FEZ, E NEM FAZ, DIETA RESTRITIVA DE NADA, só se alimenta bem. Evitamos excessos, mas nada de restrições!

Bem, já estamos na época em que ele come de tudo, mas de tudo MESMO! Ele não gosta de tudo, mas come! hahaha Não é raro ele soltar algumas pérolas, do tipo:
- E aí, filhão. Está gostoso?
- Não, não está! Mas eu vou comer assim mesmo! - e dá um sorriso simpático :-)
Ou então, ele vira para minha mãe e diz:
- Vovó, muito obrigado por você ter feito a comida, mas da próxima vez, faça alguma coisa que eu goste do tipo lasanha ou almôndegas, tudo bem? Já faz tempo que eu estou vindo aqui e comendo essas comidas.

Pode até parecer uma grosseria da parte dele, mas vocês precisam vê-lo falar. Super doce, pegando nos ombros da pessoa com a maior doçura e sendo sincero sem ser grosso. A reação de todo mundo é sempre a mesma. Recebe a crítica com alegria e faz questão de abraçá-lo e prometer que fará melhor da próxima vez.

Sua especialidade: mini pizza
Uma vez, fomos para Rio Grande, RS, e a Pâmela (mãe do Giba lindo!) fez uma comida ótima para nos receber na casa dela. E claro, para agradar ao Nicolas, fez uma forma de lasanha enorme e deliciosa! Quando o Nicolas foi comer, ele olhou e perguntou:
- Mas o que é que tem nessa lasanha que está esquisita?
- Ah, meu amor. É frango. Tu gostas de frango? - ela perguntou com um baita sorrisão.
- Eu gosto, mas não na lasanha, né!
Eu fiquei com a cara no chão, mas a Pâmela é igual a quem é fã do Nicolas: deixa ele à vontade para falar o que quiser. E ele, muito malandro, via falando tudo o que dá na telha quando tem liberdade.
A Pâmela riu muito e deu arroz, feijão e carne para ele, que ela ja tinha preparado. Aqui em São Paulo, dificilmente alguém irá colocar frango na lasanha, mas estas diferenças culturais têm sido muito importante para o desenvolvimento do Nicolas.

Batata doce grelhada, com frango e ervilhas frescas
Ultimamente,  tenho postado muito ele fazendo coisas na cozinha. Estes dias ele fez frango com batata doce e ervilhas frescas, está fazendo mini pizza (uma delícia!), ajuda em tudo na cozinha, esquenta a própria comida no microondas sozinho etc. A mini pizza, ele faz a massa com farinha de trigo, faz o molho com tomates no liquidificador e completa com os ingredientes para a cobertura. 

Dia desses, ele me ligou porque precisava abrir a panela de pressão, que já estava fria com carne para o almoço. Eu expliquei a ele por telefone como abrir a panela, apertando de leve o cabo e tirar do pininho. Ele tentou e gritou: - Ah consegui! 
Próxima aula: como fechar a panela de pressão!
Pedi a ele para não se esquecer de fechar a panela e disse que já estava chegando. E foi assim que encontrei a panela "fechada" em cima da mesa. 

Achei muito interessante que ele se atentou ao pininho e ao cabo, e achou que já seria o suficiente. Mesmo assim, nunca desistimos. Hoje, fizemos strogonoff com batatas assadas ao alecrim. Ele adorou ter ajudado na execução e eu aproveitei para tentar ajudá-lo a descascar alho. Foi muito difícil, por causa da coordenação motora dele que não é muito boa, mas já foi um outro começo. 

Até ovo, que ele vive dizendo que detesta em todas as palestras, eu consegui fazer uma fritada (prato espanhol feito de ovos e batata frita) e ele adorou, chegando a repetir 03 vezes! 

Diferença entre salsinha e coentro
Outra coisa que estamos fazendo, é pedir para ele nos ajudar a preparar as coisas e vamos ensinando o nome das coisas, texturas, aromas. Estes dias, ele separou salsinha em um recipiente e coentro em outro. Fui falando para ele das vitaminas que tem nestes produtos, dos sabores distintos, o quanto são usados em algumas cozinhas internacionais, fui mostrando a diferença nas folhas etc. Foi um exercício de paciência e muito bom.

Strogonoff com batatas assadas ao alecrim e manteiga
Bem, no geral tem sido assim. Ele tem nos ajudado cada vez mais na cozinha, tem se interessado cada vez mais por experimentar coisas, tem tido a iniciativa de preparar coisas diferentes... Tem sido uma aventura e tanto. E aquele menino, que gritava para comer aos quatro meses e meio e que não comia nada, hoje em dia, já até cozinha e come de tudo. 





Para as pessoas que continuam com dificuldades com seus filhos, especiais ou não, tentem diversificar o máximo possível e crie situações que desperte o interesse. Conosco tem dado MUITO certo.
Arrumando a mesa do café da tarde para receber os amigos. Muito carinho <3






sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Autistas crescem

Autistas crescem. Claro que crescem!

Mas, às vezes, temos a impressão que eles não crescem tão rápido como os outros filhos. E também não podemos nos esquecer que mãe é mãe e que temos a sensação de nosso filhos serem sempre nossos bebês.

Com filhos especiais, parece que eles demoram mais para crescer. E por que isso acontece? Porque a ansiedade toma conta e nos consome, dia a após dia, com perguntas sem respostas imediatas. Para alguns pais, isso serve de combustível para construir o futuro de seu filho o melhor possível e trabalharem incansavelmente para dar maior autonomia possível a eles. Já para outros, isso os deprime e lhes tira as forças para lutar, tentar, tentar de novo, e outra vez, e mais uma vez... O cansaço vem forte e o desânimo vem junto. Para alguns, viver não tem graça.

Ah, se eu pudesse simplesmente te dizer que seu filho vai crescer e que muita coisa que te consome hoje nem irá  te incomodar... Se houvesse uma fórmula mágica, eu daria a cada pessoa que está com o coração aflito. Seria de graça e na dose certa e, como num passe de mágica, todos entenderiam que eles crescem e que muitos problemas somem. Às vezes, aparecem outros, às vezes desaparecem todos. Mas sempre muda. E não é assim com qualquer filho?

Não importa o grau de autismo de seu filho, se alguém estiver ao lado dele, lutar por ele, um dia, com toda certeza, ele evolui. Evolução não é cura, mas entender que com o apoio necessário esta pessoa,
agora adulta, será capaz de fazer coisas que duvidamos no passado porque alguém nos disse que eles seriam incapazes. E porque, na cegueira de só ver o autismo, nos esquecemos de entender que essas pessoas têm potencialidades, talentos e um futuro pela frente. Eles podem ser alguém dentro de suas capacidades, e não dentro dos limites que os outros colocarem a eles. Deus não dá asa a cobras, mas dá asas à nossa imaginação e forças para nos levantarmos cada dia mais fortes (às vezes, mais fracas) para cuidarmos de nossos filhos e desejarmos o melhor a eles.

Autistas crescem, sim. Por isso temos que ter em mente que cada passo que damos é um passo para o futuro. Por mais que possa parecer difícil, nunca se esqueça: NADA DURA PARA SEMPRE. Nem as alegrias, muito menos as tristezas. Se pararmos para contar, temos muito mais motivos para sorrir do que para chorar, porque a cada respirar de nossos filhos temos a certeza de que ainda temos a chance de fazê-los felizes. Temos a certeza que podemos reescrever nossas histórias. Carregamos em nossos corações o desejo de fazê-los felizes e na cabeça a certeza de que tudo vai dar certo.

Meu filho irá completar 17 anos mês que vem, e se alguém tivesse me dito, lá no passado, que tudo iria dar certo, certamente eu teria duvidado... Mas quem me disse isso, não foi alguém, foi algo. Foi uma voz dentro de mim me dizendo para nunca desistir. Essa voz, se chama AMOR INCONDICIONAL.

Acredite em você e acredite no potencial de seu filho. Um dia, a dor vai passar.

Nota:
Alguns autistas conseguem ser independentes quando adultos. Se casam, têm filhos, trabalho etc. Outros, não conseguem. Mas o que impossibilita é o grau do autismo (se mais severo) e muitas comorbidades. Porém, isso não define felicidade. Ser feliz vai além de se casar, entrar na faculdade etc. Ser feliz é ter a certeza de que somos amados por quem nos ama.