segunda-feira, 25 de julho de 2011

Carrossel

Enquanto nos dirigíamos para a cabine que vendia a ficha que dava direito a uma volta no brinquedo, eu fui falando com o Nicolas:

- Lembra, amor, que nós vínhamos aqui com você brincar? Nossa, eu adorava quando você estava no carrossel e sorria. Era a coisa mais linda do mundo te ver ali sentadinho. Agora nós estamos aqui de novo juntinhos. Não é gostoso? Hoje vou comprar pra você o lanche que você quiser e depois vamos para casa descansar juntos. Quero ficar dentro do quarto com você sem ninguém para incomodar. Afinal é uma delícia ficar sozinho. Mas às vezes precisamos sair de casa, né!

Comprei a ficha e nos dirigimos ao brinquedo. Ele estava bem mais solto e mostrava vontade de ir, mas ao mesmo tempo ele titubeava e não disse com palavras que queria ir. Eu tinha que incentivá-lo sem mostrar que estava incentivando para não afastá-lo novamente. Em alguns momentos eu tinha certeza que ele me escutava e me entendia, em outros momentos eu não estava tão certa assim.

Quando chegamos no brinquedo eu o coloquei no carrossel e perguntei a ele qual ele preferia, então ele se dirigiu a um cavalinho que eu acredito que ele tenha gostado. Eu o ajudei a subir e ele deu um suspiro de alegria. Eu disse a ele:

- Nossa, eu estou tão orgulhosa de você. Quando eu contar para o papai ele não vai nem acreditar.

Então eu desci do carrossel e fiquei lá embaixo olhando para ele e, cada vez que ele passava por mim, ele olhava de soslaio e demonstrava alegria. Ele literalmente estava se comunicando comigo através do olhar e eu quase morri do coração de tanta alegria. Há quanto tempo ele na me olhava mais? Há quanto tempo eu não via o sorriso dele com um motivo real para sorrir?

Durante vários meses eu só escutava os gritos dentro da minha cabeça por causa do vazio da voz dele... Às vezes ele começava a chorar tão sentido que dava a impressão que ele tinha sido magoado por alguma coisa. Outras vezes ele gargalhava tão gostoso, mais tão gostoso, que era impossível não rir junto. E era uma gargalhada alta e com gosto! Eu perguntava a ele do que ele estava rindo e ele não respondia nada, nem me dava ouvidos. Gargalhava e depois punha o dedo na boca e se deitava de costas para mim. Depois da gargalhada vinha o choro. Aquele choro interno que você só entende quando está em uma situação dessas. O silêncio que ele fazia depois era o motivo de eu morrer um pouco mais a cada dia. Mas, a vontade de resgatá-lo era o que me dava forças para não morrer, e sim tentar. Era o combustível para eu tentar viver só mais um dia e tentar mais uma vez. Eu precisava só de mais uma vez.

(...)
Eu precisava ouvi-lo falar novamente. Eu precisava daquela voz doce e daquele sorriso meio desengonçado dele.
*Leia mais no livro "Meu filho ERA autista" - informações: meufilhoeraautista@yahoo.com.br

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O começo do fim do hiato


Quanto mais distante o Nicolas ficava, mais estressante e confuso era o processo, pois não tínhamos a menor idéia se funcionaria qualquer tratamento com ele. A impressão que dava é que ele não falaria mais nada nunca mais, e como eu estava lendo uma série de coisas sobre autismo, só conseguia entender que autista só vive em seu mundo e não tem contato nenhum com nosso mundo. Mesmo assim, as conversas com ele todos os dias o dia inteiro, eram incessantes. Eu não desistia de falar com ele o tempo inteiro mesmo ele não me respondendo uma palavra se quer. Às vezes, doía muito eu falar com ele sem ouvir a resposta, mas como eu disse antes, eu não tinha muito tempo para chorar.

A possibilidade de lhe dar remédio era algo que me incomodava profundamente e eu não me sentia preparada a administrar nenhuma droga no meu filho. Além do medo dos efeitos colaterais, eu pensava que, já que a condição dele é uma desordem não-física, então porque medicamento? Analisava várias vertentes para ver a possibilidade de se administrar algo nele que tivesse contra indicações. Resultado da minha pesquisa: Zero possibilidades.

Então comecei a perceber que ele talvez estivesse com um problema muito mais emocional e psíquico que físico, logo o tratamento mais eficaz seria muita paciência, carinho, extrema dedicação e um amor incondicional.

Naquela época, o Alexsander ainda trabalhava naquela empresa de logística e seu salário era baixíssimo, mas o convênio valia a pena, apesar de eles descontarem o valor integral do salário do meu marido, o que fazia com que o salário fosse ainda menor. Então, por causa do convênio, ele continuou trabalhando na empresa.

Tive que dispensar alguns clientes e comecei a dar bem menos aulas só para ficar ao lado do Nicolas porque eu achava que poderia recuperá-lo a qualquer momento.

Nesta época, Deus colocou em minha vida novamente a Marcinha. Fui professora dela na época de escola e havíamos nos tornado grandes amigas, assim como aconteceu com a Cris, com o Xadú e com mais alguns ex-alunos. Mas esses ficaram na minha vida para modificar muita coisa em relação ao Nicolas.

(...)
*Leia mais no livro "Meu filho ERA autista" - informações: meufilhoeraautista@yahoo.com.br