sexta-feira, 13 de março de 2015

Sou pai de um garoto autista, mas acima de tudo, sou pai!


Há quem diga que eu ainda sou um "mulecão"! Na boa? Acho que sempre serei. Gosto de dar risada alto, gosto de tirar sarro, mas mantenho respeito, e adoro me divertir com meus filhos Nicolas e Guilherme.

Fui pai muito cedo, eu tinha apenas 19 anos, mas incrível como eu sabia o que queria. Não pensei em aborto, em abandonar minha namorada, em largar tudo e sair correndo. Eu celebrei o momento em que peguei aquele teste em minhas mãos. Apesar de novo
, eu sabia que seria pai e queria muito! Só não sabia que eu seria pai de uma criança especial. Nunca imaginei.

Mas também nunca imaginei jogando bola com meu filho, ou que ele fosse médico, ou qualquer outra coisa. Não sou chegado a futebol e acho que era muito novo para ter feito planos para uma outra vida. Meu plano de vida sempre foi: viver intensamente e ser feliz. E por que não ser feliz com um filho e com a mulher que eu amava? Ah, e ainda amo!

Assim que o Nicolas nasceu, a Anny, minha esposa há 17 anos, começou a suspeitar que havia algo de errado no comportamento do Nicolas. Eu estava tão feliz em ter tido o bebê mais lindo do mundo, que não achava nada de errado. Só achava que ele era bonzinho e que estava tudo bem.

A Anny teve uma infecção após o parto e eu pensei que fosse perdê-la. Orei muito a Deus para que ele não tirasse minha esposa de mim e que guardasse a vida do nosso filho. Quem cuidou do Nicolas nos primeiros dias, foi eu com a ajuda da minha mãe e da minha sogra, porque minha esposa teve febre de 41 graus devido à infecção. Passado o susto, lá estava ela ao nosso lado.

Quando ela começou a suspeitar que nosso filho tinha algum problema, achei até que fosse delírio, mas ela já estava bem. Na minha cabeça não fazia sentido, pois, pode até parecer estranho, mas pessoas com deficiência sempre tiveram uma afinidade comigo. Onde eu chegava e tinha alguém com Síndrome de Down, autismo, ou qualquer outra deficiência ou síndrome, essas pessoas se aproximavam de mim, fosse para conversar, para abraçar ou só para ficar perto de mim. E eu não via nada no Nicolas que lembrasse as pessoas que eu já tinha tido contato.

Nos primeiros 02 anos de vida do Nicolas, neguei veementemente e não dei atenção. Mas aí começaram as provas irrefutáveis. O isolamento, a falta de comunicação, a falta de interação, a comparação com as crianças da idade dele etc. Não dava mais para negar. Confesso que senti um aperto no coração de ter deixado minha esposa sozinha nessa crença durante tanto tempo. Mas entendam, além da idade eu não entendia nada sobre autismo. Além do mais, olhar para aquele rostinho lindo todos os dias, não me deixava perceber o que estava bem diante de meus olhos.

Analisando hoje, friamente, não sei se a negação era um bloqueio ou uma fuga. Confesso não ter a resposta. Mas tenho outras certezas que me seguram firme nesta caminhada: a certeza de que eu nunca abandonaria meu filho e esposa; a certeza de que passaríamos por isso juntos; a certeza de que seríamos felizes juntos para sempre.

Apesar de todos os problemas que tivemos que enfrentar, sinto que estamos em um lugar seguro hoje e que este lugar foi construído por nós e pelas pessoas que nos apoiaram. Como diz minha esposa: VALEU A PENA!

O Nicolas é inteligente, esperto até demais, me espanta cada dia, é autista, é feliz, é lindo... O Nicolas é o cara que me mostrou o que é viver sem ter medo do amanhã. O Nicolas é meu filho. Como disse no nosso primeiro livro, tenho certeza que aprendo mais com ele do que ele comigo.

Aos pais, àqueles que ficaram ao lado de suas famílias, vou copiar minha esposa: PARABÉNS! Não é para qualquer um. Tem que amar ao outro acima de tudo. Isso é amar! Àqueles que abandonaram suas famílias por causa do autismo, fica aqui minha pena. Sinto muito, talvez você até tenha outra chance, mas essa você perdeu. Perdeu a chance de se tornar uma pessoa maior e melhor. Não os julgo, porque sei que é difícil, mas lembrem-se que a hora de amar é essa.

Obrigado à minha esposa por ter pego minha mão e não ter me deixado desabar. Obrigado ao meu filho Guilherme que, do jeito dele, tem me ajudado a descobrir cada dia mais como ser um bom pai. E obrigado ao Nicolas por ter me escolhido para ser seu pai. Sou feliz e não trocaria minha família por nada neste mundo.

Nós não curamos o Nicolas, curamos a nós mesmos!

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