O que eu ACHO que
aprendi em 16 anos...
Sempre
quis ser mãe. Desde pequenininha. Tive meu primeiro filho biológico aos 27
anos. Eu tive a sorte de poder escolher a idade e o pai de meu filho, então,
tudo estava perfeito. Até que veio o autismo...
Muitas pessoas nos perguntam o que
sentimos quando pegamos o diagnóstico. Honestamente, nem deu tempo de pensar em
nada e de curtir a fase do luto. Sim, curtir! Porque acho que merecemos passar
por esta fase e, às vezes, até precisamos! E sabem por que não deu tempo?
Porque eu não estava focada em concertar o que “deu errado”, mas preocupada no
que daria certo a partir dali. A preocupação era dar qualidade de vida ao meu
filho. Passei tanto tempo procurando o diagnóstico, que acho que passei pelo
luto antes. Só precisava saber que ele não era uma doença degenerativa. O
autismo eu consegui digerir melhor.
Depois
de 11 anos que o Nicolas nasceu, adotamos o Guilherme, neurotípico e, assim
como o Nicolas, lindo, amado, desejado e pra lá de especial!
O Gui, que seria o considerado “normal”
pela maioria da sociedade, virou adolescente e percebi que ter um filho autista
tem seu ônus e seu bônus! Descobri, também, algo que eu meio que sempre desconfiei:
ser mãe, é ser mãe. Não importa se seu filho é deficiente ou não. Cada um traz
alegrias e tristezas de formas diferentes. As preocupações são diferentes.
Com
o autista, acabamos pensando:
1.
Será
que ele vai falar?
2.
Será
que ele vai me olhar?
3.
Será
que ele terá uma namorada um dia?
4.
Será
que ele vai conseguir dirigir?
5.
Será
que ele vai conseguir trabalhar e formar uma família?
6.
Será
que ele terá mais uma convulsão hoje?
7.
Será
que eu vou conseguir sair de casa algum dia?
8.
Será
que ele vai conseguir comer hoje? Vai mudar a dieta?
9.
Será
que ele vai me dizer com suas próprias palavras o que é que ele tanto imagina?
10. Será que um dia ele vai dizer que me ama?
11. Será que alguém vai cuidar dele depois
que eu morre?
12. Será...?
13. Será...?
São
tantos questionamentos... Mas, em meio a todos eles, achei uma resposta para
tudo: NUNCA DESISTA! Não importa quantos anos você tenha ou qual o grau de
autismo de seu filho. Ou ainda, qual a deficiência! Saiba que cada dia é mais
um dia para ser feliz e fazer quem te ama, e quem você ama, feliz.
Aprendi
a ver as várias formas de comunicação dos meus dois filhos. Cada um mandando seus
sinais codificados, mas que queriam dizer a mesma coisa:
·
Me
ama, mãe!
·
Presta
atenção em mim.
·
Sim,
eu estou aqui e te amo.
·
Por
favor, me deixa um paz só um pouquinho!
São adolescentes... São humanos... São
meus filhos!
Fui
constatando cada vez mais que meus filhos não são os seus. São os meus, do
jeitinho que eles são. Fui constatando, também, que meus métodos de educar meus
filhos não iriam agradar a todos da família, muito menos a todos da Internet! Sim,
eles são únicos! Especiais...
Aprendi
que ser diferente é normal e que ser normal é ser feliz! Se você faz de tudo
para ele ser feliz, não tem como ser diferente. Ele é feliz! Mas, e quando os
filhos não têm deficiência ou síndrome alguma? Quais são nossos
questionamentos?
1.
Será
que ele vai crescer saudável?
2.
O
que será que ele vai ser quando crescer?
3.
Será
que ele volta pra casa hoje?
4.
Será
que ele vai beber demais na balada?
5.
Será
que ele será feliz com essa pessoa?
6.
Será
que ele entrará na faculdade?
7.
Será
que ele não será preso em uma blitz, ou por que resolveu “fazer uma fita com os
camaradas”?
8.
Será
que ele está envolvido com drogas?
9.
Por
que será que ele me respondeu hoje e não está falando comigo?
10. Será...?
11. Será...?
Bem, o que acho
que aprendi durante estes meus poucos, e bem vividos anos de maternidade, foi
que filho é tudo igual. Todos nos dão alegrias e tristezas e cabe a nós
transformar cada momento em único. Tirar as tristezas para os aprendizados e as
alegrias para os sorrisos futuros, quando, autistas ou não, eles não estarão
mais entre nós ou nós entre eles...
Ah, eu já ia me
esquecendo. Sobre todos os questionamentos acima, troque TODOS por apenas um:
Será que meu filho será feliz?