quinta-feira, 23 de junho de 2011

Milagres...

Relatar aqui, com toda a riqueza de detalhes, o que aconteceu nas horas seguintes, e até mesmo nos dias que se seguiram, será humanamente impossível. Minha memória é tida como excelente, porém meus nervos não são de aço. Só sei que daí em diante tudo mudou em nossas vidas e financeiramente nos afundamos muito!

Com o passar dos dias, nossa situação financeira começou a ficar tão afetada, o que já vinha acontecendo desde o ataque às Torres Gêmeas, que já não sabíamos mais nem por onde começar ou terminar qualquer coisa em nossa empresa. Eu não conseguia mais atender a todos os meus clientes particulares de tanto ir ao médico com o Nicolas. Logo nosso orçamento desmoronou. Nosso dinheiro acabou todo! Alguns dias tive que pedir dinheiro para minha mãe para comprar leite para o Nicolas.

Nós havíamos comprado nosso primeiro carro antes de o Nicolas ficar doente e quando percebemos já estávamos devendo a segunda parcela do carro e a energia elétrica seria cortada. O Alexsander e eu sentamos para conversar e percebemos que já se havia passado três meses desde a última vez que tínhamos ficado juntos. Nunca mais tínhamos ao menos nos beijado de verdade. Aquele beijo apaixonado, que dura até hoje, ficou esquecido por um tempo em que não tinhamos tempo para nós. Não brigávamos, mas também só falávamos sobre autismo e como incentivar o Nicolas a comer e a falar alguma coisa. Era como se tudo isso tivesse virado uma obsessão. Cada descoberta que fazíamos nas leituras e pesquisas nos levava a falar mais e mais em como recuperar o Nicolas e a cada relato ruim, pesávamos até onde conseguiríamos ir e se conseguiríamos.

Um dia sentamos para decidir o que fazer em relação às dívidas e vimos que já não tínhamos muito o que fazer. O número de alunos devedores era astronômico! Se recebêssemos todo o dinheiro que estava na rua, compraríamos uma casa. Muitas pessoas não nos pagaram até hoje. Aprendi a perdoar com o tempo, mas isso me fez muito mal, saber que algumas delas estavam, inclusive, viajando internacionalmente, enquanto nós só estávamos tentando ter gasolina para levar nosso filho no médico.

Uma dessas pessoas me encontrou no ônibus uma vez e disse:

- Oh, Anita. Eu sei que eu to te devendo, mas confia viu! Eu vou te pagar.

De alguma forma eu vi que aquele dinheiro não iria chegar em minhas mãos jamais. (...)
*Leia mais no livro "Meu filho ERA autista" - informações: meufilhoeraautista@yahoo.com.br