quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Nossas experiências com Autismo e Sexualidade - Parte II

     Quando o Nicolas tinha 07 meses, eu comecei a tentar tirar sua fimose após o banho. Um dia, saiu feito manteiga. Ele, como era muito resistente à dor, não chorou no momento. A impressão que deu é que ele sentiu um calafrio, mas eu comecei a dizer:

     -Pronto, pronto, pronto, meu amor. Já passou, viu! Parabéns, lindo da mamãe, você é muito corajoso.

     Após uma hora, o Nicolas começou a chorar desesperadamente, o que ele raramente fazia, então nos assustou muito. Levei-o ao médico e disse o que havia acontecido. A médica passou xilocaína em seu pênis e então ele voltou a fazer xixi e coco. O que aconteceu é que, cada vez que ele tentava fazer suas necessidades, seu pênis ardia porque eu havia tirado a fimose. Levamos xilocaína para casa e tratamos por alguns dias com uma pomadinha e tudo se resolveu. Quer dizer, quase tudo, pois, toda vez que eu ia lavar seu pênis, ele se assustava (ele já tinha memória eidética, mas falávamos em "memória de elefante" rsrsrsrs).

    Sempre desenvolvemos as habilidades do Nicolas e ele começou a tomar banho sozinho quando estava por volta dos 08 anos, mas todas as semanas "fazíamos uma faxina" nele com um bom banho e sempre explicando a ele onde e como lavar. Nicolas tem um pequeno problema de coordenação até hoje. Ela não tem força e coordenação necessárias para sua idade, então isso impede que ele lave sua cabeça bem, pois não esfrega bem o couro cabeludo.

     Bem, como ele começou a ficar bem grandinho e a desenvolver, o Alexsander ficou responsável por seu banho semanal, mas com viagens a trabalho, um dia teve que ser eu. Quando me deparei com o homem que meu filhinho havia se tornado da noite para o dia, notei que era hora de levar a conversa sobre sexo mais adiante. Ele já sabia tudo sobre menstruação e como os bebês nascem. Agora era a hora de explicar como eles eram feitos e sobre masturbação.

     Durante todos esses anos eu sempre fui lembrando o Nicolas de que ele só poderia "mexer no pipo" dentro de casa e dentro do quarto dele. Que na rua, as pessoas iriam julgá-lo e que não poderíamos mais sair para comprar as "guloseimas" dele se ele não se comportasse.

     As conversas foram ficando mais sérias conforme ele foi crescendo e desenvolvendo a habilidade de falar. Em todos estes anos eu só ouvi histórias tenebrosas sobre crianças autistas e sexualidade. NUNCA ouvi uma história de sucesso. Talvez as pessoas tenham medo de se expor e eu entendo... Não é fácil... Mas conforme ia ouvindo as histórias eu ia falando com o Nicolas sobre isso e sempre pedia a ele para nunca tocar no pipo na frente das pessoas porque senão muitas coisas poderiam acontecer, como o conselho tutelar levá-lo de mim e eu responder por atentado ao pudor. Sei que talvez nada disso acontecesse, mas se você perguntar ao Nicolas o que significa atentado ao pudor, ele sabe te explicar.

     Ouvi coisas do tipo:
     - Anita, tem um menino que frequenta a igreja católica na minha cidade e ele tira a roupa no meio da missa. O problema é que ele está cada vez maior e já tem até pelo no saco. Mas a mãe não consegue controlá-lo e disse ao padre que seu filho é especial e que não pode parar de ir à igreja.

     - Anita, você poderia conversar com a mulher da minha igreja? Todas as vezes no culto, o filho dela tira o pipi pra fora e fica se esfregando. Depois ele passa a mão na gente. É nojento! Mas ela não tá nem aí porque o filho dela é doente mental e a gente não pode falar nada. Semana passada ele passou a mão em uma mulher e ela ficou brava com o menino que começou a gritar. Uns criticaram a mulher e outros a mãe do menino.

     - Ai, teacher. Minha tia ligou chorando e disse que meu primo começou a se masturbar dentro do mercado e que chamaram o segurança. Ele não parou quando a mãe pediu e o segurança agarrou no braço dele. Aí ele começou a berrar e os dois foram tirados do mercado. Ela está com tanta vergonha que vai mudar de cidade, porque a cidade que ela mora é um ovo e está todo mundo comentando.

     E tem mais um monte de história tristes...

     Depois conto mais a vocês e direi como está o Nicolas hoje, aos 13 anos.
Parte I: http://meufilhoeraautista.blogspot.com.br/2012/12/nossas-experiencias-com-autismo-e.html
Parte III: http://meufilhoeraautista.blogspot.com.br/2012/12/nossas-experiencias-com-autismo-e_16.html
 bjus

 

3 comentários:

  1. simplesmeente perfeito !!!
    (Fraan Moraes - Jatai)

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  2. É Anita, percebo que essa questão também, envolve muita paciência e desenvolvimento na cabeça da criança. Assim como todos os outros processos.
    É imprescindível que os pais saibam tratar deste assunto desde cedo, para formar um caractere na cabeça do filho.
    Parabéns, você e o Alex são realmente corajosos.
    Admiro vocês cada dia mais.
    Grande abraço

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